DA EUROPA PARA BELO HORIZONTE

SWAMI SARVÃNANDA

(GEORG KRITIKOS)

Nasceu em junho de 1922, na terra do Conde de Saint Germain, Transilvânia, pai grego e mãe romena, sob o signo de Aleph; seu número pessoal era sete e seu número de apoio 22.


Aos 22 meses sofreu de pneumonia dupla, tendo sido desenganado pelos médicos. Alguém veio então e condicionou a continuação de sua vida à promessa de dedicá-la “ao trabalho”, ele aceitou, horas depois estava fora de perigo.

Até a adolescência viveu isolado de conhecimentos no meio de povo simples do campo e dentro da natureza pura da região, sob a tutela do avô materno, junto aos carvalhos milenares e sob a mira dos picos dos cárpatos.

A facilidade das línguas, herdada do pai, permitiu falar três idiomas usados na região: romeno, húngaro e alemão, ajudando-o a adaptar-se mais facilmente aos países pelos quais passou e viveu.

Logo depois da Segunda Guerra, foi trazido pela tia materna, para o Uruguai, onde reencontrou seu Mestre e amigo, Sri Sevananda Swami, tornando-se discípulo e recebendo dele a iniciação, transmitida pelo adepto egípcio Ra Mak Otep. Chegou ao Brasil em 07 de dezembro de 1953, ingressou no Ashram de Rezende – RJ, como residente número 7; em 22 de junho de1957, foi ordenado membro da Ordem dos Sarva Swamis de Sri Shankaracharya, por seu Mestre, que fundara a “Ordem dos Sarvas Swamis” em 02 de agosto de 1954, na ocasião, recebeu a bengala dos Sanyasins Sarvas. Em sete de dezembro do mesmo ano, uniu-se em matrimônio, “dentro do serviço”, com a residente Daya; e em 20 de setembro de 1958, foi empossado por Sri Sevananda como seu sucessor e Sarvayogacharya da Ordem dos Sarvas Swamis.

Em 1958, fundaram Sarvananda e Daya, sob a orientação do Mestre, o “Instituto Juvenil de Yoga”, dentro das terras do Ashram de Resende, onde passaram a cuidar e educar crianças abandonadas, até o fim das atividades do mesmo, em 1961.

Durante o período de atividades do Ashram, Sarvananda foi encarregado do “Livro dos Símbolos Secretos” da OSA, assim como ajudou Sri Sevananda nas atividades de ensino e orientação de seus discípulos dentro e fora do Ashram.

Sarvananda e Daya permaneceram residentes até o fim das atividades do Ashram em 1961, quando veio para Minas Gerais com sua família e uma rica bagagem de estudos, treinamentos e experiências em Sarva Yoga. Instalou em Belo Horizonte o primeiro Núcleo de Yoga Integral e o Instituto Árjuna de Yogaterapia, inicialmente a Rua Tupinambás transferindo-se um ano depois para a Rua Goitacazes, 43 onde permaneceu por mais de 30 anos.

Ao longo desse tempo desenvolveu mais pesquisas em Yogaterapia, beneficiando muitas pessoas incluindo dependentes químicos. Formou muitos professores de Yoga, diversos deles atuantes até hoje.

A convite do professor Daniel Antipoff e sua esposa, D. Ottilia Braga Antipoff, assumiu a tarefa de preparar e orientar professores de Yoga na área de recuperação de excepcionais, no Instituto de Psicologia Aplicada de Minas Gerais (IPAMIG), a Rua do Ouro, 1900 com “excepcionais resultados”, no período de 1960 a 1966.

Aos 51 anos, em 1973, viajou em peregrinação a Índia, sem acompanhamento, passando por Bombaim, Delhi, Benares, Siriguri, Darjeeling, Calcutá e Dakshineswar, reencontrando em Benares e Sarnath seu próprio passado. Em Calcutá teve a revelação do rumo de sua vida que, sem duvidar, e a partir daquele instante, assumiu um novo posicionamento interior.

Continuando sua viagem, seguiu para o Japão, onde fez estágio no “Zen Yoga Dojo” do Sensei Oki Masahiro. Durante sua permanência no Dojo, recebeu valiosos baseamentos do Sensei, que o nomeou seu representante no Brasil.

De volta ao Brasil, em março de 1974, iniciou imediatamente as pesquisas e práticas do que, bem mais tarde se transformou no “Trabalho Básico” (TB). No TB ele reuniu a experiência adquirida no Ashram de Resende com Sri Sevananda, as técnicas e filosofia de G. I. Gurdjieff e o subsídios trazidos do Dojo, do Sensei Oki Masahiro. Disto resultou um método poderoso de impulsionar os interessados a se colocarem frente a frente de si mesmo, obtendo auto consciência e deixando surgir a aspiração transcendental.

Em 1975, fundou a Comunidade Rural e Alternativa Mãe D’Água, reconhecida como de “utilidade pública estadual e registrada como Reserva Biológica e Refúgio de Animais Silvestres”, no INCRA.

Desenvolveu na Mãe D’Água junto aos companheiros e residentes, atividades diversas entre as quais, agricultura, horticultura e fruticultura naturais, adotando o composto biológico desenvolvido pelo Engenheiro Agrônomo, Dr. Franz Leher, austríaco, idealista que residiu na Mãe D’Água durante três anos.

Muitos dependentes químicos e dependente de álcool foram completamente recuperados com a vida rigorosa e sadia que se levava na Mãe D’Água, onde os residentes recebiam instrução de Sarva Yoga, sendo iniciados nas técnicas de Meditação na busca de neles instalar um maior teor de autoconsciência.

A Mãe D’Água fechou suas portas em meados de 1986.

Sarvananda publicou os seguintes livros: “Yoga para crianças”, um excelente guia para professores de Yoga que pretendem trabalhar com crianças; “Yoga em casa”, um guia perfeito para professores e pessoas que em algum motivo não tenham como freqüentar uma escola de yoga; em 1998, editou o livro “Androgonia – O que o homem é”, indispensável a professores de Yoga e a aqueles que buscam embasar seus conhecimentos rumo à auto realização.

Em fins de 1987, por convite do Professor Octavio Ulysséa transferiu-se com a família para Curitiba, onde instalou na Faculdade de Ciências Bio-psíquicas da Fundação de Educação e Cultura Espírita do Paraná e Santa Catarina – FECEPASC, um núcleo de formação de Sarva Yoga, que deu origem ao “Curso Seqüencial de formação de professores de Yoga com ênfase em Yogaterapia”, reconhecido pelo MEC, nas Faculdades Integradas Espírita, em Curitiba. Ao mesmo tempo Daya prosseguia com as pesquisas dos diversos aspectos das terapias naturais e alternativas, enquanto Sarvananda se ocupava com a reestruturação e atualização da “Ordem dos Sarvas Swamis” – OSA.

Retornando a Belo Horizonte em Junho de 1991, um novo impulso de atividades foi iniciado na vida individual dos membros da OSA. O Trabalho Básico foi instalado com vigor, tendo como conseqüência o ingresso de novos membros na OSA, entre os quais alguns Cavaleiros representando a ala ocidental da Ordem e a ordenação de dois Swamis, sua esposa Swamini Daya e o jovem Swami Satyananda, seu sucessor na Ordem dos Sarvas Swamis – OSA.

Swami Sarvananda participou de muitos congressos no Brasil e exterior, com atuações muito marcantes e em 1993, organizou o I Congresso de Yoga, em Belo Horizonte.

Sarvananda era possuidor de uma ampla capacidade para expressar-se. Ainda que nascido no outro lado do mundo conseguia reunir as palavras de modo a dar-lhes o sentido e a expressão correta de forma exata e sintética tanto na fala quanto na escrita.

Ministrava aulas de Yoga de uma forma bastante Yang, daí os resultados terapêuticos alcançados; dando muita relevância à busca do silencio mental, sendo essa a sua marca, o diferencial da Escola Sarva.

Severo, enérgico, sério, quando necessário, possuía o dom da gratidão. Era comum manifestar do fundo do coração uma imensa gratidão por um simples ou pequeno fato, ato ou palavra recebida. Era também muito afetuoso.

No dia 05 de Dezembro de 1998, Sarvananda reuniu amigos e discípulos, fazendo sua despedida; estava mais uma vez de partida para Curitiba. A palavra chave para a mudança “atividade”, prosseguir e intensificar, “com entrega”, o trabalho.

Já instalado em Curitiba, Sarvananda em 24 de dezembro de 1998 escreve aos seus em Belo Horizonte: “Há assim previsão de belas atividades coletivas e encontros de elevada importância”.

Mas o destino tem surpresas. No início de 1999 Sarvananda em viagem a Minas Gerais passando por Juiz de Fora, Formiga e rapidamente por Belo Horizonte, volta a Curitiba. Chegando a Curitiba, sua filha Stella nota no pai um grande cansaço. Indo ao médico, após exames, este lhe prescreve cirurgia cardíaca (safena). No dia 18 de março de 1999, Sarvananda foi internado onde foi feita a cirurgia e para grande surpresa de todos, inclusive dos médicos que o consideravam o “paciente perfeito” com 100% de chances de recuperação, surgiram complicações no pós operatório, e após 30 dias a maior parte deles na UTI do Hospital Cajuru, em Curitiba, com muito sofrimento, deixou o corpo físico as 2h15m do dia 18 de Abril de 1999.

Swami Sarvananda foi sepultado no Cemitério Parque Iguaçu, em Curitiba, num dia frio de céu muito azul, próximo a Natureza e na presença da família e de amigos queridos. Assim terminou sua vida carregada de intensidade, plena de intrepidez, inteiramente dedicada ao próprio aprimoramento e ao desenvolvimento do ser humano, fiel a promessa que fizera no seu segundo ano de vida de dedicar sua vida a humanidade.

Em 18 de abril de 2000, no Museu Abílio Barreto aconteceu o lançamento de sua obra póstuma “Memórias – 1922-1960” editada e revisada com a ajuda do amigo e companheiro desde Ashram de Resende Sr. Mario Teles de Oliveira, com a presença de Swamini Daya, Swami Satyananda, Mario Teles, família, discípulos e amigos.  Confirmando assim sua participação na história de Belo Horizonte.